Huacachina – Salvo num Oásis

Sabe aquelas histórias que quando você está contando é difícil de acreditar. Até você mesmo se surpreende, ainda que esteja repetindo pela décima vez, com aquele pensamento de “não acredito que isso aconteceu”. Papo de mochileiro é isso, causos difíceis de acreditar.

Primeiro mochilão

O ano era 2011, Setembro de 2011, após ter descoberto a maravilha que é viajar eu me organizava pro meu primeiro mochilão. A clássica trip: Bolívia, Chile e Peru. Estava tão ansioso que não cabia em mim. Àquela altura meu cartão crédito debitava no dia 5 e como eu viajava no dia 3, fui ao banco, imprimi o boleto do cartão e paguei. Estava levando dinheiro em cash mas como nunca se sabe queria ter o cartão de backup desde o primeiro momento da trip Meu roteiro iniciava no Peru, Cuzco, Machu Picchu, Puno e ia para Bolívia. Copacabana foi a primeira parada, seguida por La Paz, Potosí e a trip pelo Salar de Uyuni terminando no Chile em San Pedro do Atacama. De lá subiria em direção ao Peru para conhecer Arequipa, Nazca, Ica e ir para Lima de onde voltaria para o Brasil.

Mudando Planos

Eu estava engatinhando na fotografia com a minha Nikon D5000 quando esqueci a câmera no transfer que nos conduzia da Aduana até San Pedro. Até aquele momento eu tinha passado a viagem toda tirando fotos e não tinha aproveitado tanto a viagem. Em questão de segundo após uma auto-análise percebi que fazia todo sentido perder a câmera e decidi direcionar toda minha energia para curtir aquela trip.
San Pedro de Atacama é uma cidade espetacular! Eu sinceramente me apaixonei por aquele lugar. Sabe desses amores que nascem em momentos traumáticos!? (risos)
A ideia inicial era ficar 2 dias ali e rumar para o Peru, porém na hora de pegar o ônibus troquei a passagem para o dia seguinte, no dia seguinte troquei de novo e isso se repetiu ainda mais uma vez. Era a semana da Dezochada o feriado da independência chileno (18 Set) aí já viu. Passeios de bike, corrida pelo deserto, festas e mais festa até que a hora de ir embora chegou.atacama

E agora neguinho!?

A mudança no estilo da trip refletiu no bolso. Com tanta festa, pisco sour e cervejas a grana se foi e precisei ir ao banco. Que surpresa!!! E não foi boa surpresa. Tentei em 3 caixas diferentes e não conseguia sacar. Resolvi checar na internet e descobri. Até hoje não entendi como isso ocorreu. O cartão de crédito que eu tinha pago com a funcionária do banco também veio cobrado no débito automático. Como eu estava viajando a conta ficou no negativo e eu não percebi. Foram passando-se os dias e as contas começaram a bater numa conta sem fundo e aí bloqueou geral!!! hahahahaha! Agora, depois de ter processado o banco e ter sido ressarcido é bem engraçado, mas na hora não foi não.
O que eu tinha em cash mal daria para ir pra Lima e de lá voltar para o Brasil, mas faltavam cinco dias pro vôo de volta. Precisava, pelo menos, comer e dormir. Foi aí que eu adquiri um costume que me acompanha até hoje. Nos momentos de dúvida, eu quebro a cabeça até ter duas opções, aí eu jogo um cara ou coroa ( tem que ser melhor de três) e sigo a moeda. Rumei para o Peru.

Huacachina

A primeira opção no Peru foi desprezar Arequipa. Com os dias a mais em San Pedro essa já era uma ideia forte. A segunda opção cortada dos planos foi Nazca. A ida para lá tinha como meta observar as famosas linhas de Nazca, para isso precisaria de um avião, sem grana, sem vôo. Fiquei entre Ica e ir direto para Lima. A moeda me levou a Ica e lá chegando fui direto para o tal Oasis.
Ô sorte!!! Huacachina é uma espécie de bairro de Ica, um verdadeiro Oásis. Um lago, cercado por dunas, com um pequeno comércio, restaurantes e hotéis. Como eu tava sozinho e meu argumento tava curto procurei por algum lugar mais tranquilo barato.
Não me lembro o nome do hotel, mas lembro que quando cheguei estava quase saindo um tour para as dunas de areia, um passeio onde o pessoal ia pegar o buggy, subir as dunas e em dado momento paravam pros turistas praticarem o sandboard, um esporte que consiste em descer dunas de areia com uma prancha parecida com a de snowboard.  Naquela confusão um cara veio falar comigo.
Era o Titi, um dos caras mais maneiros que conheci naquela trip. Quando ele veio perguntando de onde eu era e descobriu que eu era do Rio não parou mais de falar. Ele tinha passado mês e meio na minha terra poucos meses antes e a experiência tinha sido incrívelhuacachina
Naquela correria de ter que ir pro passeio ele me chamou e eu disse tava sem grana, ele insistiu dizendo que tava com ele e eu fui. Ele me pediu uma força pra embarcar as pranchas no buggy e subimos.

Contei pra ele da minha “história triste”, da câmera perdida, do lance do cartão e que eu tava no perrengue dali até voltar. Foi aí que encontrei a minha salvação. Ele estava ali no Oásis há algumas semanas como instrutor de sandboard e conhecia o dono do hotel e da agência do tour. Quando descemos fomos falar com o cara pra eu ficar de instrutor revezando com ele nos dias seguintes, em troca eu teria hospedagem, comida e uma prancha. O cara olhou pra mim de cima em baixo e disse que se era o Titi indicando eu já tava contratado. Hahahahahha

Daí em diante foi um tal de: “Your foot here, another one there… please, be careful!”; “Parado o acostado? Si hay miedo mi sugerencia es acostado”. Trabalhei, comi, dormi, sorri e vivi uma experiência incrível que não teria como comprar.

Pesquisando para ilustrar encontrei o pessoal do site Sundaycooks que fez um vídeo bem legal sobre o passeio de buggy nas dunas de Huacachina:

[kad_youtube url=”https://www.youtube.com/watch?v=rE6W1c2q73c” ]