Serra Fina
A travessia da Serra Fina é um trekking clássico do circuito brasileiro! Com visuais incríveis de uma cadeia de montanhas maravilhosas é conhecida e desejada pela maioria esmagadora dos amantes do mundo outdoor, entrou na bucket list do Sua Casa é o Mundo no planejamento da Expedição Mantiqueira do Ponto Alto 10 para chegar ao cume da Pedra da Mina e do Pico dos Três Estados, respectivamente quarto e décimo pontos mais altos do Brasil.
Como chegar
A travessia da Serra Fina é realizada ao longo da Serra da Mantiqueira, no encontro dos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, apesar do início e do fim da caminhada serem no Estado de Minas Gerais, nas cidades de Passa Quatro e Itamonte. O mais comum é realizar a travessia no sentido Passa Quatro – Itamonte, apesar de existirem pessoas que o realizam no sentido inverso.
Considerando iniciar no lado de Passa Quatro o ponto inicial é a Toca do Lobo, um ponto que fica a aproximadamente 13 km do centro da cidade. E o final é no sítio do Pierre, próximo a BR 354, estrada que liga a Rod Pres Dutra à Itamonte. Assim, há necessidade de contratar alguém para te levar ao início e resgatar no final da aventura.
Na cidade de Passa Quatro existem diversas pessoas que realizam esse serviço, mas pela atenção, cordialidade e qualidade do trabalho, mais que indicamos a Patty – (35) 91337584.
Quando ir
O melhor período para fazer a travessia da Serra Fina é na temporada de montanhismo, entre os meses de maio e setembro. Isso porque no inverno a probabilidade de chuva é pequena, garantindo um trekking em boas condições climáticas. Em que pese a necessidade de se preparar bem para encarar baixíssimas temperaturas nas montanhas.
A Expedição Mantiqueira que realizamos pelo Ponto Alto 10 ocorreu no fim de maio. Optamos por realizar a travessia no feriado de Corpus Christi, de quinta-feira a sábado.
Condições Necessárias
Não é por acaso que a Travessia da Serra Fina tem a fama de ser a mais difícil do Brasil. Com sinceridade, é difícil afirmar isso sem definir parâmetros. O que se pode afirmar é que atravessar a Serra Fina é uma atividade bastante desafiadora.
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- Navegação em dia
- Bom preparo físico
- Equilíbrio emocional
- Material para frio
- Bom plano logístico
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Analisando os 30 km, no papel, não parecem um grande desafio. Mas pode acreditar, para percorrer esses 30 km é preciso estar em dia física e mentalmente. Contratar um guia para essa tarefa não vai te ajudar na parte física mas mentalmente é um auxilio gigantesco. Caso opte por realizar a travessia sem guia é preciso estar bem “afiado” na navegação e na orientação. O trecho entre a Toca do Lobo e a Pedra da Mina está muito bem sinalizado, com totens, fitas e adesivos reflexivos, porém a partir da Pedra da Mina até o Sítio do Pierre existem diversos pontos onde um pequeno deslize pode te colocar em apuros. Sem conhecer o caminho um GPS com o tracklog do caminho é mais que recomendado. Uma carta topográfica, croquis e bússola são itens muito interessantes.
Logística
Visitar a Serra Fina é se desafiar em vários aspectos. Pela complexidade da aproximação, escassez de pontos d’água e locais para acampar, a preparação logística para essa aventura deve ser minuciosa, considerando ainda a necessidade de uma boa análise da previsão do tempo, o que fazemos no mountain-forecast. A organização da comida e a análise de quanto de água deve-se pegar em cada trecho do caminho são fundamentais para definir que tipo de alimento conduzir e estudar o peso a ser levado nos diversos trechos do trajeto.
Existem 5 pontos d’água em ótimas condições no caminho:
- Toca do Lobo – Ponto inicial da trilha, raciocine com água suficiente pra 1h, 1h e 30 min;
- Quartizito – Pouco antes do Quartizito, à direita da trilha, pegue água para 1 dia;
- Base Pedra da Mina – Pegue água suficiente para subir e descer a Pedra da Mina;
- Vale do Ruah – Pegua água para toda a travessia, o próximo ponto será a poucos km do fim.
- Descida para o Pierre – Mate a sua sede se a água do Vale do Ruah já acabou. 😀
Expedição Mantiqueira – Nossa Serra Fina
Dando continuidade ao Ponto Alto 10 seguimos para Passa Quatro na noite de quarta-feira, 25 Maio 16, para evitar gastos com hospedagem combinamos com a Patty que encontraríamos com ela, ela nos levaria até as proximidades da Toca do Lobo e ficaria com o carro até sábado, quando ela nos encontraria em Itamonte e devolveria o carro. Assim, passamos a noite acampados entrando no clima da Travessia da Serra Fina.
Nosso planejamento
O objetivo do nosso primeiro dia era nos aproximar ao máximo da Pedra da Mina. Como o objetivo do Ponto Alto 10 é produzir imagens procuramos não correr muito, fazendo as pernadas com calma para registrar tudo. Entendendo que o papel aceita tudo, mas na realidade as coisas podem sair diferente do que planejamos, calculamos com uma folga de um dia. Levamos suprimentos para realizar a travessia em 4 dias e 3 noites, mas pretendíamos fazê-la em 3 dias e 2 noites. O que acabou acontecendo.
Dia 1
Distância: 8,38 km Subindo: 1.375 m Descendo: 451 m Tempo Total: 9h 48 min
Ponto mais baixo: 1.552 m Ponto mais alto: 2. 568 m
Iniciamos na Toca do Lobo às 8h da manhã, por se tratar de feriado estávamos um pouco preocupados com um número muito grande de pessoas na montanha. A travessia da Serra Fina tem diversos trechos de single track (trechos onde só é possível passar uma pessoa) e achamos bem chato ficar pedindo “licença” para passar os mais lentos, assim tocamos direto até as proximidades do Quartizito onde abastecemos a água para todo o primeiro dia e seguimos subindo.
O trecho inicial da Travessia da Serra Fina é só subida. Com uma variação de 900 metros, em pouco mais de 5km, da Toca do Lobo até o Capim Amarelo, a primeira pernada da Travessia já da as boas vindas! Chegamos no Capim Amarelo por volta de Meio Dia e resolvemos tocar sem parar. Como nosso objetivo era nos aproximar o máximo possível da base da Pedra da Mina e não queríamos caminhar a noite não perdemos muito tempo.
Depois do Capim Amarelo, o próximo ponto onde as pessoas costumam ficar é o Maracanã. Uma área com vaga para muitas barracas, mas que também nos deixaria distante da base do cume. Na verdade a distância nem preocupava tanto, o problema seria uma “subidinha” que precisaríamos encarar no dia seguinte e nos faria perder tempo. Assim, decidimos seguir em frente enquanto houvesse luz e acabamos chegando em uma pequena área de camping nas proximidades do cume do Melano.
Dia 2
Distância: 9,13 km Subindo: 737 m Descendo: 777 m Tempo Total: 9h 25 min
Ponto mais baixo: 2.415 m Ponto mais alto: 2. 798 m
Depois de experimentar uma friaca à noite, acordamos animado para andar. Na verdade desesperados para andar. Não víamos a hora de nos mexer e espantar o frio. Seguimos por mais ou menos uma hora e já avistamos o quarto ponto mais alto do Brasil. Me recordei da minha primeira experiência no Ultra Trail Running, uma prova de 80Km que passava pelo caminho que estávamos percorrendo e descia a Pedra da Mina pelo Paiolinho.
Pegamos água na base da Pedra da Mina e seguimos para o ataque ao Cume! Por volta de 12h lá chegamos, conquistando o quinto ponto do Ponto Alto 10, Pedra da Mina – o quarto ponto mais alto do Brasil segundo o IBGE. Ficamos 1h curtindo o cume, escrevendo no livro e trocando ideia com o Wendell, um montanhista de Teresópolis muito carismático que estava por lá.
Como nossa jornada era longa, as 13 abandonamos o cume descendo em direção ao Vale do Ruah. Desse ponto em diante a navegação passou a ser mais delicada. A todo o momento chegando o tracklog do GPS para evitar os deslizes e não ficar perdido naquele mato alto do Vale do Ruah. Foi quando ganhamos mais 3 amigos na nossa jornada. Samuel, Filipe e Edu também estavam realizando a travessia e tiveram problema com o GPS.
Quando chegamos no Vale do Ruah eles se juntaram a nós e seguimos juntos durante um longo trecho. Pegamos água no fim do vale e subimos em direção a Brecha. Esse trecho também tem uma navegação complicada. Muito mato, bambu e algumas trilhas que confundem a navegação. Mantivemos confiando no GPS e pouco antes do Mirante do Vale das Cruzes encontramos uma pequena área de camping onde os três decidiram ficar. Eu e Bia seguimos e pernoitamos no cume do Cupim de boi.
Dia 3
Distância: 12,83 km Subindo: 508 m Descendo: 1.649 m Tempo Total: 10h 7 min
Ponto mais baixo: 1.396 m Ponto mais alto: 2. 665 m
Tudo estava mais que perfeito. A friaca do primeiro dia, que tinha nos assustado, resolveu dar uma trégua e a noite foi perfeita. Acordamos cedinho para apreciar o nascer do sol mas algumas nuvens atrapalharam. Com a chegada dos três amigos do dia anterior reorganizamos nosso time e seguimos rumo ao Pico dos Três Estados – Décimo Ponto mais Alto do Brasil.
A variação altimetrica nesse trecho da travessia já não é tão grande, mas a progressão no bambuzal, atravancando mato e desviando de cipós é bem chata constante.
A navegação também é crítica. Por vezes a trilha some entre os galhos e é preciso confiar no tracklog. As marcações do caminho são bem escassas e o cansaço já começa a pegar. Mas não levamos muito tempo e às 9h da manhã já estávamos comemorando a chegada ao cume.
Conquistada a nossa meta era hora de descer. Assim fizemos indo até o Alto dos Ivos, de onde ligamos para o resgate.
Do Alto dos Ivos para o fim da travessia são aproximadamente 3h 30min de caminhada e a despedida da Serra Fina não é mole não. Descer dos Altos dos Ivos é mais um desafio atravacando mato e desviando de bambus.
Lembranças para Sua Serra Fina
- Não leve peso desnecessário. É muita subida;
- Bastões de caminhada vão te ajudar muito;
- GPS, cartas topográficas e croquis são muito úteis;
- Utilize camisas de manga comprida e calças; e
- Preserve a natureza, seja gentil e cordial com as pessoas