Quando o Edinho me disse que faria uma prova de 106km e que pela primeira vez correria com um carro de apoio, eu questionei: Como ser equipe de apoio numa ultramaratona? Para responder a essa pergunta ele me levou para um treino dele de 4 hora de corrida no asfalto. Depois desse treino eu só tinha uma resposta: não seria uma tarefa muito fácil. hahahaha
A preparação
A prova que participei como apoio foi a ultramaratona da Estrada Real que ocorreu no sábado dia 30 de abril de 2016, e foi incrível participar de tudo tão de perto. A preparação começou na quinta feira quando saímos do Rio com tudo na mala rumo a BH. Na sexta feira passamos o dia inteiro de um lado para outro na cidade comprando os suplementos que faltavam, arrumando as coisas que eram essenciais para a prova e ainda fomos no final do dia no Congresso Técnico da prova para pegar o kit dele e saber as dicas do percurso, aonde era possível ou não passar de carro.
O Congresso técnico acabou bem tarde e ainda tínhamos programado um briefing com todo mundo que seria parte do apoio na corrida. Fizemos uma reunião rápida, passamos as informações básicas necessárias e colocamos tudo dentro do nosso carro, um Renault Clio 1.0 “off road” e “4X4”, segundo o imaginário de seus donos. kkk
A prova
Como o dia anterior acabou sendo bem corrido, não conseguimos fazer toda a preparação necessária, mas estávamos Eu, Vinícius, Daniel e Edinho as 7:00h da manhã chegando literalmente correndo para a largada da prova em Sabará. O Edinho largou com o Vinícius de ‘pacer’ e eu e o Daniel seguimos de carro.
Nessa parte da prova não era possível acompanhar o atleta de perto com o carro, então fomos dar a volta para encontrá-lo no próximo ponto que era na cidade de Raposos. Como eu e o Daniel não conhecíamos o caminho, nós erramos algumas vezes até chegar a cidade encima da hora. Sem saber se o Edinho já havia passado, ficamos aguardando ansiosos os atletas que passavam por aquele ponto. Quando vi o Edinho foi um alívio, entreguei a ele o Endurox programado para aquele momento e ele seguiu sozinho enquanto nós 3 seguimos de carro rumo ao outro ponto de encontro: Honório Bicalho.
Para esse segundo ponto de controle conseguimos chegar com mais tempo de antecedência. Abastecemos o carro, colocamos água e Gatorade no gelo, preparei as proteínas e deixei tudo “organizado” para os meninos que seguiriam com o carro até Rio Acima nos acompanhando de perto. A organização da equipe de apoio ainda estava confusa, mas aos poucos começávamos a entrar no ritmo da maratona.
Minha meta era acompanhar o Edinho como ‘pacer’ pelos próximos 20 ou 30 km, como tinha previsto minha treinadora, mas não dei conta. O Edinho começou a prova muito bem e estava correndo muito forte. A prova é cheia de subidas e descidas e acompanhá-lo nas subidas estava sendo complicado pra mim. Quando chegamos a Rio Acima combinei com ele de parar. Assumi a direção do carro, o Vinícius teve que ir embora e o Daniel começou a correr com o Edinho. E assim seguimos pelos próximos vinte e tantos km.
No carro eu sempre dirigia um pouco a frente do Edinho. Tínhamos uma planilha com os horários em que ele precisava se alimentar, hidratar ou suplementar e por essa planilha e pelos pedidos dele fui me orientando. Dirigia 5 minutos e parava, ou dirigia por 1 ou 2 km e parava de novo. Via se estava tudo bem, se precisava de alguma coisa, tirava fotos, desviava de buracos, fazia proteína, colocava bebida no gelo e por aí em diante pelos próximos muitos quilômetros de prova até Ouro Preto.
O Daniel depois de superar os mais de 20 km correndo ao lado do Edinho, se juntou a mim na missão do apoio do carro. E foi perfeito poder contar com mais um naquele momento. Enquanto um dirigia o outro podia dar mais atenção as solicitações do atleta, tirar fotos e tudo mais.
Nesse meio tempo rolou ainda troca de meias, pesagem, troca de camiseta, remédio para bolhas, massagem na panturrilha, além de entregar e pegar de volta os bastões de caminhada por muitas vezes (ele só usava em subidas).
Tudo correu muito bem, mas quando estávamos a caminho de Glaura encontramos pelo caminho um atoleiro que o nosso Cliozinho não conseguiu enfrentar. Entregamos a mochila para o Edinho com algumas coisas e seguimos para a cidade pela estrada. Deu tudo mais que certo, mas foram momentos de apreensão. Não sabíamos quanto tempo levaríamos para dar essa volta de carro, nem quanto tempo o Edinho levaria correndo até a próxima cidade. Avisei ao Márcio e ao Leandrinho, que iriam encontrar com a gente em Glaura para ajudar no apoio, o que tinha acontecido e seguimos. Antes da chegada na cidade conseguimos encontrar a trilha que os atletas estavam passando. Conversando com um outro carro de apoio e descobrimos que o Edinho ainda não tinha passado. Missão cumprida, encontramos com ele novamente pegamos de volta a mochila e seguimos com ele até Glaura.
Nesta cidade encontramos o Marcio e o Leandrinho que seguiu com o Edinho correndo pelos próximos quilômetros. Neste trecho havia um pedaço de trilha fechada, então demos a volta até São Bartolomeu onde encontramos eles e seguimos o Edinho de perto até Ouro Preto. Eu e o Daniel já estávamos mortos no carro. Andávamos 1km e dormíamos 5 minutos até ouvir o Edinho gritando por água ou pedindo o bastão para alguma subida.
Nos quilômetros finais o Daniel ainda entrou novamente para correr com o Edinho enquanto eu seguia com o meu carro na frente e o Márcio com o carro dele atrás iluminando todo o caminho escuro de São Bartolomeu a Ouro Preto.
A Chegada
Depois de 15h da largada a chegada triunfal em Ouro Preto. Foi incrível. Ser apoio é sentir-se parte de todo esse processo. De alguma forma todos nós que estávamos lá pudemos vivenciar um pouco do que é correr 106km de sobe e desce. Correndo um pouco com ele, tirando fotos, sendo o farol para iluminar o caminho ou fazendo piadas, cada um pôde sentir um pouco a emoção desses 106km. A conclusão que cheguei sobre como ser equipe de apoio numa ultramaratona é que você tem que estar ligado o tempo todo para realmente ajudar o atleta a vencer cada quilômetro procurando auxiliar em cada uma das suas necessidades, em cada momento da prova. Como eu tinha percebido, a tarefa de fato não é fácil. Não corri nem 10 km e me senti quase mais cansada que ele que completou os 106km em quarto lugar. Mas, se dependesse de mim ele correria todas as provas dele com apoio, porque estar ao lado do atleta ajudando e incentivando compensa qualquer cansaço.
Dicas rápidas:
- Quando for ser equipe de apoio numa ultramaratona tente conseguir um carro realmente ‘4X4’ e ‘off road’, se for possível, mas se não for e você não tiver pena do seu carrinho, coloque ele que de alguma forma ele dará conta;
- Procure organizar o carro com antecedência para não precisar se preocupar com a gasolina que está acabando ou em procurar aquela meia que atleta imaginou e resolveu querer e que você não faz ideia de onde pode estar no meio de tanta confusão;
- Leve coisas para você comer, pois em meio a correria o apoio vai precisar comer e não terá tempo de procurar um restaurante para isso. Minhas rodelas de batata doce e meus chocolates me salvaram!
- Procure aprender todas as funções da máquina fotográfica que você pretende usar para registrar os momentos da ultramaratona. Vai ser no mínimo engraçado ver o atleta tentando te ensinar a usar a câmera fotográfica enquanto corre (ele fez isso Kkkkkk);
- Procure ter sempre mais de uma pessoa com você no carro para dar suporte ao atleta. Você vai precisar de ajuda se o carro atolar, ou vai precisar que dirijam enquanto você descansa ou pega algo para o ultramaratonista. Mas, se não der, vai você mesmo. Até eu consegui fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo, qualquer um pode conseguir. kkkkk