“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver” Amyr Klink
Os barcos a vela sempre auxiliaram o homem na transposição de rios e mares, no transporte de pessoas, alimentos e mercadorias. Pensar em navegação à vela sempre me remeteu aos bancos escolares e à era das grandes navegações com os europeus que "descobriram" o mundo. Confesso que esse tema até então não despertava meu interesse até que descobri alguns livros do citado Amyr Klink.
Pesquisando me deparei com os velhos polinésios que navegavam através de estrelas; os loucos que acompanharam o norueguês explorador e geólogo Thor Heyerdahl a bordo do Kon-tiki na travessia do pacífico (Um precário veleiro construído para comprovar a tese de que povos primitivos das Américas teriam chegado a mesma Polinésia em tempos Pré-Colombianos); e com o famoso Endurance do capitão Shackleton que naufragou na expedição para chegar ao Polo Sul.
Grata surpresa
Paralelo à crescente curiosidade sobre as coisas do mar a vida me presenteou com a vinda de um grande amigo para a Cidade do Rio de Janeiro. Matheus Gasiorowski Billodre, carinhosamente apelidado de Zé. O Zé veio ser meu vizinho trazendo a paixão pela vela, despertada no velho Guaíba, na capital do Rio Grande do Sul. Meses antes da sua mudança para as terras cariocas o pai dele tinha adquirido um veleiro e ele viveu intensamente a paixão do pai.
Ao chegar no Rio ele me contou das experiências nas férias e do quanto ele tinha gostado daquela atividade. Amigos de longa data e apaixonados por aventuras escutá-lo falando veleiro fazia crescer muito a minha curiosidade. Do jeito que sou, não me contive e no mesmo dia fui pesquisar algum curso de vela no Rio de Janeiro. Ao encontrar não acreditei. Curso de Vela Oceânica na Baía de Guanabara!!!
Curso de Vela Oceânica
Que mentira danada! Como eu acreditei que aquilo era um Curso de Vela Oceânica eu não sei. Na verdade a atividade foi maneiríssima e eu de fato acreditei ter feito um curso de vela. Até conhecer a Bia, que foi criada à bordo de um veleiro, e me mostrou que de curso aquilo não tinha nada.
Assistimos atentos a uma apresentação de powerpoint com slides explicando nomes e funções. Bombordo, estibordo, proa, popa, cambar, corda que não é corda e sim cabo, leme. Brainstorm assustador e chato, até que saímos para velejar pela Baía de Guanabara.
O primeiro dia não foi muito emocionante, mas a atividade nova era bem prazeirosa. Eu perguntava, tirava dúvidas e questionava o funcionamento do barco em grande expedições, em dias de tempestades e mares agitados. Tudo isso numa tarde tranquila, de mar calmo na baía.
No segundo dia, saímos da Baía e percorremos as praias da Zona Sul. O mar estava mais balançado e ventava um pouco mais que no dia anterior. Começava a gostar da brincadeira quando o sol começou a descer e a brincadeira acabou.
Não ganhamos nenhum diploma nem certificado, mas foram dois divertidos dias velejando um veleiro de aproximadamente 38 pés.
Ponto Positivo do Curso de vela
Mas a surpresa melhor se reservou para o final da segunda jornada. Ficamos sabendo que o comandante do veleiro faria uma expedição ao Cabo Horn e nos ofereceu a oportunidade de estar à bordo do veleiro no trecho de Punta Arenas, no Chile, à Ushuaia, na Argentina.
Num primeiro momento eu hesitei. Achei o valor cobrado alto e não senti muita confiança. Porém, ao ouvir do Zé: "Edinho, quando vamos ter outra oportunidade dessa?" Não pensei duas vezes. Conhecer a patagônia chilena e argentina à bordo de um veleiro era um belo dum cavalo encilhado passando na minha frente, pronto para ser galopado. Como o ditado diz que cavalo encilhado só passa uma vez, não pensei duas vezes.