Quando alguém pensa na Romênia vem longo a cabeça Bucareste ou o Conde Drácula. E Maramures? Você já ouvir falar em Maramures? Maramures é uma província no extremo norte da Romênia, na fronteira com a Ucrânia. Possui uma área de 6.304 km2 grande parte ocupada por montes. Sua geografia se caracteriza por colinas, vales e mesetas. A região é reconhecida por sua atividade pecuária e agrícola.
Como chegar lá?
Maramures é uma província muito distante, até mesmo para os romenos que vivem na Região sul ou próximos a capital. Pra quem vem de outros países da Europa que não fazem fronteira com a região o aeroporto mais próximo é o de Cluj-Napoca, terceira maior cidade romena. Cluj-Napoca tem uma cena cultural crescente e diversificada, que se espalha por diversos campos, como as artes visuais, as artes cênicas e a vida noturna. A cultura da cidade data aos tempos romanos: a cidade começou a ser construída naquele período, que deixou sua marca na orientação geográfica da cidade, centrada na atual Piaţa Muzeului, assim como em diversas estruturas existentes.
O aeroporto de Cluj-Napoca é bem pequeno, não tendo muita estrutura, nem muitas opções de alimentação, mas é possível fazer um pequeno lanche e fazer o câmbio para a moeda local. Chegando em Cluj ainda se tem um grande caminho pela frente até Maramures. De carro o caminho leva cerca de 3 horas cortando florestas sinuosas. De trem, o leva cerca de 4 horas de um destino a outro.
Aonde Ficar?
Maramures é uma região bem grande subdividida em diversas outras. Existem pequenas cidades e vilarejos tradicionais. Sighet e Breb foram os lacais que conheci. Sighet é uma pequena cidade que tem como atrativos um memorial das vítimas do Comunismo, o monumento das vítimas do holocausto e alguns outros museus. O hotel e também restaurante que conheci e recomento é o Casa Iurca. Mas existem outros locais ótimos para ficar como por exemplo o Hotel Castelo Transilvânia.
Breb é uma das vilas tradicionais romenas. Um ótimo local para visitar, conhecer um pouco mais sobre a cultura e ficar uns dias. Por lá recomendo: Pensinuea Lucia; Babou Maramures e principalmente Satu' Nost', lugar que tive o prazer de ver sendo concluída a construção e decoração, com os donos muito receptivos e preocupados em estar em harmonia com a cultura local.
A vila de Breb
Breb é uma vila tradicional romana. Lá as pessoas preservam a cultura local que vem de muitos e muitos anos. O contato e a harmonia com a natureza são contagiantes. A natureza é muito convidativa, o povo então nem se fala. É preciso falar romeno para se comunicar diretamente com eles. O inglês normalmente é entendido e falado apenas por aqueles que não são originários do local. A religião é muito arraigada, em sua maioria são cristão ortodoxos. Existem igrejas muito antigas e tradicionais.
O povo usa vestimentas tradicionais para irem a igreja, ou para participar de festividades tradicionais deles. De uma maneira geral são pessoas simples e que vivem de forma quase auto-sustentável. Comem o que plantam e cultivam. Fazem o seu próprio vinho de mesa, colhem cogumelos selvagens, matam os animais que criam para comer. Costuram seus próprios lenços e vestimentas típicas e ainda tecem a lã de casacos tradicionais que passam de geração em geração.
A minha experiência
Romênia não fazia parte dos meus planos, pouco havia ouvido falar desse país da Europa. Em meia a minha lua de mel com o Edinho ficamos sabendo que nosso filme 500 jalapão Bikepacking seria exibido no Eco Filme Festival da Romênia em Sight, Maramures. Na data eu estaria em Londres estudando inglês e seria uma ótima oportunidade. Decidi que iria.
Essa decisão foi repensada muitas vezes até a data da viagem. Muitos me amedrontaram. A Romênia é perigosa, Maramures é longe, não confie em ninguém, o asfalto é ruim e diversas outras afirmações. Tive medo. Mas, consegui que minha melhor amiga me acompanhasse nessa aventura com o marido e mais eles, tinham amigos romenos para nos ajudar. Perfeito, a decisão estava tomada e iríamos ao festival.
Aeroporto e Ida para Maramures
Cheguei ao aeroporto de Claj Napoca no meio da tarde. Eu tinha fome. Troquei dinheiro e pretendia sair para comer alguma coisa, já que o aeroporto não oferecia nada mais que uma pequena lanchonete que tocava funk brasileiro (aff). Quando fui pedir informações sobre aonde comer na cidade e como chegar até lá, os olhares estranhos e desconfiados das atendentes do balcão de informações reforçaram meu medo. Optei por ficar por ali mesmo e aguardar meus amigos que chegariam mais tarde num voo vindo de Estocolmo.
Chegaram ao aeroporto por volta de meia noite e seus amigos romenos já estavam chegando. Pegamos uma carona na jornada até Sight. A estrada era muito sinuosa, a escuridão era total e as estradas eram ótimas, pelo menos para nós cariocas acostumados com o péssimo asfalto brasileiro. Após uma jornada dura, tentando me entender entre o inglês, português, sueco e romeno chegamos de madrugada a cidade esperada.
O Festival
No sábado ainda meio perdida no meio a tantas línguas e diferentes lugares consegui chegar em tempo ao Festival. Estava ansiosa! Foi minha primeira vez falando em público em inglês. Mas, foi tudo ótimo. O filme passou e foi aplaudido, após falei algumas palavras e fui entendida do jeito que deu. Estavam todos impressionados com o fato de eu ter me deslocado de longe para ir até lá. Era um festival pequeno, na sua primeira edição, mas foi uma incrível oportunidade para mim.
Após o filme, um almoço típico num restaurante ótimo! E depois um passeio pela natureza com a galera do festival. Foi ótimo ir até as montanhas ver a paisagem típica do outono já bem frio em meados de setembro. De lá voltamos para a cidade e fomos muito bem recebidos num jantar comemorativo de encerramento do festival. Fomos homenageados pela presença, canhamos lembraças típicas da região e degustamos um pouco mais da culinária local.
A vila de Breb
No encerramento do festival de filmes conhecemos um casal incrível. romenos que estavam envolvidos com o apoio do festival e moravam na vila de Breb, destino que eu já havia estudado e estava nos meus planos visitar. Muito carismático e receptivo o casal nos deu as dicas de como chegar lá, arrumaram uma carona para nós e acabaram passando o dia de domingo todo conosco nos contando mais sobre a cultura das vilas. Visitamos a igreja antiga tradicional da vila, entramos para conhecer a igreja nova que estava em meio a celebração da Santa Missa com todas aquelas mulheres lindas, maquiadas e arrumadas para a celebração. Andamos muito pelo vilarejo, ouvimos as histórias dos portais que são construídos nas entradas das casas e por fim fomos recebidos na casa de um casal da vila para um almoço típico com tudo que se tem direito. Sopa, prato principal, vinho e sobremesa. Comemos como em família, entramos para conhecer a sua casa e terminamos o dia maravilhados.
Após essa experiência encontramos os amigos romenos da minha amiga que mora na Suécia e seguimos caminho de volta rumo a toda a jornada que esperava de volta a Londres. Nunca me imaginei indo a Romênia, hoje me vejo voltando lá com meu marido para beber um pouco mais da fonte de cultura daquele vilarejo de pessoas simples e amáveis que vivem de uma agricultura orgânica e sustentável e ainda tem muito a nos ensinar sobre construções naturais e sustentáveis como a permacultura.