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O primeiro mochilão – Potosí

Seguindo a coleção de post sobre o mochilão - Peru, Bolívia e Chile, falando ainda da Bolívia, chegou a vez de Potosí. Após descobrir a pequena Copacabana e as belezas da Isla del Sol, segui para La Paz e já entendia perfeitamente o espanhol falado na Bolívia, me sentia familiarizado com as cholas e com os costumes bolivianos.

O próximo destino era a cidade de Potosí. Uma cidade que outrora rivalizou com Paris e Madrid em tamanho, riqueza e fama. Um ponto da viagem  que não estava em meus planos. Na verdade, uma cidade que até então eu desconhecia. Porém, após sugestão da Flo, uma amiga de trip que iria para lá, resolvi inserir no roteiro. Curioso para conhecer os trabalhos em uma mina de prata.potosi

Potosí

Também localizada na casa dos 4.000 m de altitude, Potosí é um dos centros urbanos mais altos do planeta. Uma cidade que surgiu e prosperou por causa da prata. No século XVII rivalizou com Madrid, a capital do Reino Espanhol. Metade da prata que circulava no mundo saía do Cerro Rico. Uma imponente montanha de forma piramidal, de onde até os dias atuais se extrai prata.

Porém, atualmente a história é bem diferente. A capital do estado mais pobre da Bolívia mantém a exploração da prata, que já não é tão abundante após 500 anos de exploração. Aos trancos e barrancos a cidade sobrevive da prata e do turismo. Sendo a exploração da prata o atrativo que chama atenção da maior parte dos visitantes que vão conhecê-la.

Por estar no caminho de quem sai de La Paz para Uyuni, o principal destino turístico da Bolívia, Potosí recebe algumas centenas de turistas que fazem uma pausa na cidade para conhecer a história e a exploração da prata. Uma visita que, com certeza, marca profundamente quem a vivencia. 

Minha trip em Potosí 

Já estava acabando a segunda semana de mochilão. As descobertas da primeira vez faziam minha mente pulsar como um coração. Refletia sobre tudo o que via, traçando paralelos com as informações dos que eu encontrava e a rotina do meu cotidiano. Parecia ter voltado à infância para a fase dos porquês.

Entrei no ônibus em La Paz um pouco chateado com o taxista que "me ganhou" 100 Bolivianos. Na verdade entrei me questionando sobre o comportamento humano, sobre diferença de classes e sobre a pobreza boliviana. Tinha me perdido das garotas e também não sabia se as encontraria. Começava a viver a primeira bad vibe da trip quando de repente alguém me cutucou na poltrona. Quando olhei para trás era Nicole, uma das meninas do Loki.

A viagem de La Paz para Potosí é longa. Foram mais de 8 horas de estrada. Mas o ônibus era tranquilo e dormi o trajeto inteiro. Reservamos o Hostal La Casona, um hostel barato, arrumadinho e bem localizado. Porém, chegamos muito cedo de madrugada e tivemos que ficar esparramados pelos sofás até a hora do check-in.


A cidade de Potosí é uma cidadezinha pacata. Lembra as cidades históricas de Minas Gerais. Tanto a arquitetura quanto a organização. Com algumas igrejas de estilo semelhante. Mas como não era isso que eu estava buscando após o café da manhã a primeira missão foi encontrar um tour que levasse as minas.

 

Minas de Prata Potosí
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Minas de Prata 

Visitar as minas de prata de Potosí, mais que visitar uma mineração é viajar no tempo e nas relações sociais. Não é um passeio do qual você saia alegre ou contente. Nem tão pouco desperta boas emoções. É um tour que envolve riscos e que demonstra a dura realidade dos mineiros. Uma classe operária com longevidade de pouco mais de 30 anos.

Existem várias agências na cidade e em 2011 os valores variavam entre 70 e 200 bolivianos. O guia, um ex-mineiro, conduz o grupo para uma casa onde todos recebem uma roupa protetora, botas, capacetes e lanternas. Após, o grupo é levado para uma rua cheia de lojinhas onde vendem os materiais usados nas minas. Álcool, folhas de coca, dinamites são os destaques de venda. 

Após essa visita, vamos para um setor da mina onde a extração é processada. Existem diversas máquinas e tanques com soluções que trabalham a prata bruta. Após mais uma sessão de explicações caminhamos para as minas. É um tour cansativo e desgastante. Pessoas com problemas respiratória e/ou claustrofobia não devem viver essa experiência.minas-de-potosi

Começamos a caminhar por túneis escavados nas pedras que vão ficando cada vez mais estreitos. Em alguns momentos é preciso rastejar para conseguir passar pelos buracos. É frio, úmido, com muita poeira, um cheiro forte característico e pouca luz. Em alguns momentos o guia para e explica o cotidiano do trabalho.

"Uma carreira que inicia na casa dos 15 anos e dura enquanto o corpo aguentar. Não passando muitas vezes dos 30 anos de idade. Para suportar a carga os mineiros mastigam folha de coca e bebem álcool puro. Imagine as consequências no organismo."

Após caminhar por longos minutos chegamos no nível (bem abaixo da entrada da mina) que os mineiros estão e podemos observá-los trabalhando. Além das condições do ambiente desfavoráveis eles fazem um esforço físico gigantesco, extraindo o minério, lotando carrinhos e tonéis e puxando-os pelos túneis.

minas-de-potosiAlgumas pessoas no grupo se emocionam durante os relatos. E é inevitável questionar muita coisa da organização de nossa sociedade. O guia explica que em uma semana de sorte um mineiro consegue fazer 150, 200 dólares. Aqueles que se organizam conseguem juntar um dinheiro e fazer a própria aposentadoria (era o caso dele, guia) mas a maioria consome todo o dinheiro não conseguindo sair dessa vida com saúde. 

A poeira e o cheiro da mina é uma desagradável companhia que junto ao turbilhão de pensamentos vêm na bagagem após essa visita. Eu, Flo e Nicole vamos para o centro da cidade comer alguma coisa e o clima fica tenso e pesado. Conversamos sobre o que vivemos e o que acreditamos e todos concordam que foi uma das paradas mais validas da trip até então.

Após o almoço elas decidem ir passear pela cidade e eu vou para a rodoviária resolver minha ida para Uyuni, o próximo destino do meu mochilão.

 

 

Resumindo

  • País: Bolívia
  • Total dias: 2
  • Transportes: Ônibus
  • Pontos altos: Passeio pelas Minas de Prata
  • Edinho: Potosí não é um pico imperdível. Se você não for realizar o tour pelas minas de prata recomendo fortemente repensar se vale a pena colocar Potosí no seu roteiro. Caso decida conhecer o trabalho dos mineiros, com certeza vale a visita.