Relato do Deserto – Pacific Crest Trail

O primeiro trecho do Caminho a dois chegou ao fim. Caminho a Dois é uma aventura de Edinho e Bia, pela Pacific Crest Trail, uma trilha de longo curso também conhecida como PCT. A PCT percorre a Costa Oeste dos Estados Unidos, no sentido longitudinal, pelas cristas das montanhas, desde a fronteira do México até a divisa daquele país com o Canadá.  A trilha passa pelos Estados da Califórnia, Oregon e Washington, sendo o primeiro dos Estados dividido em três partes: Deserto, Sierra e Norte da California (NorCal).

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Deserto - Primeira parte da PCT

O deserto foi uma grande surpresa. Ao ouvir, ler ou dizer deserto, vem à cabeça o clima árido e a paisagem marrom com areia e pedras. Quando na verdade o deserto do sul da Califórnia é bem diferente. Aliado a isso, a ansiedade e as expectativas de iniciar uma jornada tão longa e dura também ajudaram a imaginar um caminho mais exigente do que encontrado.

Números PCT - Deserto

  • Distância da fronteira com México: 1130,1 km
  • Distância total do Deserto: 1130,1 km
  • Altimetria positiva acumulada: 26898 m
  • Altimetria negativa acumulada: 28720 m
  • Dias: 55
  • Período: 5 de abril à 29 de maio
  • Média km/dia total: 20,5 km
  • Zeros: 6
  • Neros (distância < 15 km): 8
  • Média km/dia andados: 23 km
  • Dia mais longo: 35,3 km
  • Dia mais curto: 2km
  • Dia mais quente: 39º C
  • Dia mais frio: -7º C

O que esperar do Deserto

O deserto foi uma grande surpresa. Ao ouvir, ler ou dizer deserto, vem à cabeça o clima árido e a paisagem marrom com areia e pedras. Quando na verdade o deserto do sul da Califórnia é bem diferente. A ansiedade e as expectativas de iniciar uma jornada tão longa e dura também ajudaram a imaginar um caminho mais exigente do que encontrado. 

A trilha não é técnica e apesar de variar muito na altimetria existem poucas subidas muito inclinadas. Nos momentos que a variação em elevação é muito acentuada, a trilha se desenvolve fazendo zigue-zague, o que ameniza a inclinação. Além disso, o solo por vezes de pedras e muitas vezes de areia tem o "rastro" da trilha bem demarcado. Isso torna a navegação e orientação bem didática e muito bem sinalizada. Difícil imaginar alguém se perdendo nesse trecho.

Um ponto de muita dificuldade é a escassez de cursos d’água. O que demanda um estudo e planejamento detalhado para evitar a desidratação. Consultamos o PCT water report e as informações do App Guthook para esse fim e foi suficiente.

deserto da pct congelando
Descobrindo o gelo no deserto

Natureza

A maior surpresa do deserto foi a diversidade de flora e fauna. Ficamos encantados com a quantidade de verde e de belíssimas flores. Outra coisa surpreendente foi o clima. Vimos chuva e neve no deserto, enquanto estávamos esperando o calor semelhante ao da trip do Jalapão.

A variação de quantidade e espécies estava diretamente relacionada a altimetria. Quanto mais subíamos, mais verde, com pinheiros e vegetação que lembra a região do sul do Brasil. Quando a gente estava mais baixos, a vegetação espinhosa com cactos lembrava muito o cerrado e em alguns momentos o sertão nordestino.

Em relação aos animais, encontramos 21 cobras, sendo 8 cascavéis. Vimos 3 coiotes, mais de 100 esquilos de diferentes tamanhos e espécies. Incontáveis calangos, alguns ratos e coelhos e um sapinho. Inúmeras flores, de todos os tipos e cores também enfeitaram os caminhos por onde passando, nos dando a certeza de que marrom e árido só no nosso imaginário mesmo.

PCT Deserto
Deserto

Equipamento

Nosso check list de material não mudou muito do início da jornada. Porém, fizemos algumas alterações em função das experiências que vivenciamos.

A primeira troca foi o isolante. A Bia estava usando um isolante inflável da Therma-rest que furou. Trocamos por um da mesma marca com preenchimento misto. Além de inflável ele possui alguma espuma dentro. O que garante um conforto maior. O meu, que já era assim, também furou, porém reparamos com black tape e ficou bom.

A segunda mudança foram os tênis. Iniciei com um Brooks velho e a sola se desgastou. Bia começou com um La Sportiva e o pé dela não se adaptou. O tênis era muito estreito pro formato de pé e estava fazendo muitas bolhas na lateral do calcanhar. Ambos compramos o Altra Lone Peak 3.5 em Warner Spring e mandamos entregar em Idywild. O tênis novo, zero drop, nos custou um tempinho para adaptação mas funcionou todo o deserto.

Outra aquisição que ocorreu em Idywild foi um liner thermo-lite da Sea to Summit pra Bia e um fleece transpirável da Patagônia pra mim. Consequência do frio que passamos na montanha na noite anterior de chegar a Idywild.

Ainda sobre material, em Cajon Pass fomos na REI e a Bia decidiu trocar as camisas que estava usando. Ela começou com uma camiseta Columbia que compramos pela internet e o tecido era diferente do que imaginamos. Estava encharcando quando ela transpirava além de não ser confortável. A solução foi comprar uma blusa de lã merino mais grossa e transformar a blusa de dormir, também de merino em de caminhada. Na oportunidade também compramos um filtro novo da Sawyer porque esquecemos o nosso fora da barraca e ele congelou.

Nossa opinião sobre o Deserto da PCT

Após superar as primeiras 700 milhas, já nos sentimos adaptados e aclimatados. Curiosos para enfrentar o que vem pela frente mas feliz e orgulhosos de conseguir chegar até Kennedy Meadows.

edinho e bia - deserto pct
Edinho e Bia no deserto da California

Bia

O deserto foi uma grande surpresa. Lindo e verde! Cheio de sobe e desce como o esperado, foi um momento de preparação física também. Cheguei na trilha logo após a cura de uma lesão no tornozelo e uma cirurgia de emergência de apêndice. No deserto fui recuperando a forma física ao mesmo tempo que fui me encantando com a magia da PCT. A trail magic, os trail angels e a comunidade que envolve a PCT foi o mais encantador. O calor menor do que o esperado, o frio e as tempestades de neve em plena primavera uma surpresa. O deserto também foi um momento de aprendizado e adaptação do corpo a rotina, aos materiais e a vida na montanha.

Bia num fim de tarde da PCT no deserto

Edinho

No dia da operação da Bia, enquanto esperava pela saída dela da sala de cirurgia eu pensei: Se a gente conseguir terminar o deserto antes de 1 de junho vamos concluir a PCT. Quando cheguei na placa de Kennedy Meadows a emoção era tanta que minhas pernas tremiam.

A PCT foi uma grata surpresa. Desde a receptividade dos trail angels Scout e Frodo até as amizades com os outros caminhantes.

O trecho do deserto foi duro pelo peso. A maior parte variando entre 3 e 6 litros de água na mochila. Mas as trilhas por serem menos difíceis e técnicas do que eu esperava acabaram recompensando. Eu faria novamente esse trecho. Gostei muito. Principalmente na região de Idywild.

O maior ensinamento até agora foi tentar ser mais generoso nas minhas relações interpessoais, respirar mais e beber muita água.

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