Reveillon na Fumacinha – Chapada Diamantina

Perrengue inesquecível

O Edinho sempre me falava que na vida dele de mochileiro e aventureiro algumas vezes passava por situações complicadas, mas que valiam boas histórias. No réveillon de 2014/2015 foi a minha vez de experimentar uma história que cabe perfeitamente aqui.fumacinha

Estávamos eu, Edinho, Leão e Camilinha aproveitando os poucos dias que tínhamos para passar o réveillon na chapada Diamantina. Escolhemos para o dia 31 ir a Cachoeira da Fumaçinha. Tracklog salvo no GPS, Garmin no pulso, algumas comidinhas para o caminho e pé na trilha.

A trilha para a Cachoeira da Fumacinha é longa e linda! Aproveitamos muito o caminho até lá. Passamos por vários caminhos de pedras e rios, tiramos muitas fotos e curtimos bastante. Confesso que cheguei até a cachoeira um pouco cansada. Tínhamos feito um café da manhã a base de tapiocas e não tínhamos levado tanta comida para o caminho. Mas o que tínhamos parecia suficiente. Comemos um pouco de salame, bebemos água e curtimos um pouco o visual.

O Edinho e o Leão ainda seguiram um pouco mais para fazer mais algumas fotografias e eu optei por descansar um pouco curtindo o visual já que tínhamos todo o caminho de volta até o local aonde estávamos acampados e pretendíamos chegar antes do anoitecer.fumacinha-2

Fotos feitas, paisagem apreciada, era hora de voltar. Iniciamos o lindo caminho de volta sem grandes problemas até que eu inesperadamente coloquei a mão numa casa de marimbondo e fui atacada por vários deles. A dor era absurda. O Leão ao tentar afastar os bichos de mim levou ainda uma ou duas picadas. Eu morri de dor, aguentei firme e segui. Mas, com medo de ter alguma reação alérgica no meio daquele lugar inacessível, achei que era prudente tomar um antialérgico e assim fiz e seguimos nosso caminho.

Um pouco mais a diante foi batendo uma fome mais apertada e me senti um pouco enfraquecida. O Edinho tinha na mochila uns géis de carboidrato e proteína a base de cafeína que ele costuma usar nos seus treinos e provas de ultramaratona. Eu e a Camilinha dividimos um gel desses e seguimos em frente. Foi quando comecei a me sentir mal.

Estava estranha a princípio e não sabia bem o que era. Falei com o Edinho que estava sentindo meu coração acelerado e que não parecia normal. Deu mais uns 2 minutos e comecei a passar muito mal. O meu coração batia tão forte que meu corpo sacudia junto com ele. Tentei me acalmar. Tomei um banho no rio que nos acompanhava por todo o caminho. Como se não bastasse junto a taquicardia comecei a ter enjoo e cólicas abdominais, ou seja, coração disparado, diarreia e vômito. O que fez o nosso deslocamento ficar muito mais lento. Para completar tínhamos um longo caminho de pedras sobre um rio para percorrer e começava a anoitecer.fumacinha-3

Segui em frente do jeito que dava. O coração acalmou após o banho de água fria, mas a diarreia e o vômito continuaram. Me sentia cada vez mais fraca. O Edinho e o Leão estavam na missão de me ajudar. Como não tínhamos nos programado para pegar a trilha a noite, não estávamos tão preparados. A Camilinha foi firme e me apoiou o tempo todo não se desesperando com a nossa situação.

Foi difícil me manter firme nesses momentos. Pedi forças e energia para o universo e me mantive caminhando do jeito que dava. Edinho e Leão cumpriram a missão de nos guiar naquela escuridão e ainda me carregar. Terminei a trilha me apoiando de um lado no Edinho e de outro no Leão, mas terminamos.

No carro tínhamos bastante comida e Gatorade. Tínhamos programado um jantar especial para a virada do ano, mas me restou rehidratar com Gatorade deitar e dormir. Reidratada, já sem a diarreia e vômito e com o coração batendo no ritmo normal descansei a noite toda e tudo ficou bem.

Foi um Reveillon muito diferente. Estava num lugar incrivelmente lindo, cercado de pessoas que gosto demais e tive a oportunidade de viver uma experiência muito difícil, mas que me ensinou muito. Sou muito agradecida por ter ao meu lado pessoas tão especiais. É maravilhoso ter o apoio dos verdadeiros amigos nesses momentos! Reveillon que vai ficar para a história como um grande aprendizado.fumacinha chapada diamantina

Agora só tenho medo de passar as viradas do ano com o Leão, porque ele fica torcendo para ter um novo perrengue. Segundo ele essa virada do ano teve como consequência um ano incrível. Valeu, Leão, pela ajuda, mas outro perrengue na virada do ano não precisa não! Kkkk