Uma das melhores partes do Sua Casa é o Mundo são as conexões interpessoais que fazemos. Dentre a infinidade de pessoas maravilhosas que conectamos, a querida Cris relatou para gente a trip dela com o marido Júnior por um dos trekkings mais icônicos do planeta, o Circuito O do Trekking Torres del Paine. Assim, além do relato do Circuito W da nossa querida Fer Cazerta, agora o Sua Casa é o Mundo conta com mais essa dica desse cantinho especial do nosso planeta!
Trekking Torres del Paine
Fala pessoal!
Meu nome é Cristina, eu e o meu marido Júnior fizemos uma super aventura nas férias de dezembro de 2018 e estamos aqui pra compartilhar com vocês, além de dar algumas dicas, pra quem tiver tempo e disposição pra fazer o Circuito “O” do trekking Torres del Paine.
Pra gente é uma honra estar fazendo esse relato aqui para o “Sua casa é o mundo”, que acompanhamos com muito carinho desde o início.
Então vamos lá, foi uma das grandes aventuras da nossa vida e espero que vocês curtam o relato e compartilhem suas impressões, dúvidas e sugestões conosco.
A Travessia do Circuito “O” do trekking Torres Del Paine era um sonho antigo do Júnior, sempre adiado pelo tempo necessário e pelas dificuldades logísticas, mas como qualquer outro sonho, bastou decidir que seria feito e colocar no papel, transformando o sonho em plano que, logo se tornou realidade.
Planejamento do Trekking Torres del Paine
O planejamento é uma etapa importante em qualquer atividade ao ar livre, mas nesse caso, sem planejar alguns detalhes é impossível fazer essa trilha!
O Parque Nacional de Torres Del Paine, fica no Chile, a cidade mais próxima em território Chileno é Puerto Natales; as cidades com aeroportos que operam vôos com conexão do Brasil, são El Calafate na Argentina ou Punta Arenas no Chile.
Tanto de El Calafate quanto de Punta Arenas são mais ou menos 6 horas de viagem de ônibus para Puerto Natales, de Puerto Natales ao Parque são quase 3 horas de ônibus. Só aí já deu pra entender que chegar no Parque não é moleza, e é preciso decidir com calma o percurso pra chegada.
Além disso, todos os acampamentos tem limite de pessoas por noite e é preciso fazer a reserva com muita antecedência (as reservas abrem em abril). Alguns dos acampamentos são operados pela CONAF – órgão do Governo Chileno que administra os parques – outros são operados pela Vértice e outros pela Fantástico Sur – empresas privadas autorizadas a operar os acampamentos e refúgios. Para fazer o circuito “O” é preciso acessar os sites das três operadoras e ajustar corretamente as datas, facinho, né!?
Em setembro decidimos que iríamos a Torres Del Paine. Assim, compramos as passagens, reservamos os hotéis e por sorte, conseguimos fazer todas as reservas dos acampamentos para o mês de dezembro. Como dizem: a sorte acompanha os audazes!
Brasil – Argentina:
Pegamos um voo São Paulo- Buenos Aires – El Calafate. Passamos só uma noite em El Calafate, mas já foi suficiente pra entender que dá pra fazer uma viagem maior pra lá: tem muitas opções de trilhas – incluindo a ida a El Chaltén e ao Fitz Roy – e outros passeios, além de ótima comida e lojinhas de material de aventura (principalmente roupas) com preços convidativos para brasileiros.
Uma dica sobre El calafate: muitas promoções para quem pagava “en efectivo” então tivemos que sacar dinheiro no banco local, só conseguimos no Banco Unión, pagando algumas taxas, se soubéssemos, teríamos levado mais pesos do Brasil.
Argentina – Chile:
No dia seguinte saímos cedinho pra Puerto Natales, pegamos o ônibus da Cootra que era o mais barato, não gostamos: a viagem foi sem paradas para lanche/banheiro.
O ônibus só parou na fronteira entre Argentina/Chile e lá ficamos mais de uma hora e meia, esperando para carimbar o passaporte na Argentina e depois passando pela Alfândega Chilena.
A parada na aduana é bem demorada mesmo, os Chilenos são muito cuidadosos com o que não pode entrar em seu país. Eles passam TODAS as malas, bolsas e mochilas no raio-x e pedem para ver tudo o que parece algo proibido, como comidas não industrializadas e gás para fogareiro.
Sabendo disso, deixamos para comprar todas as castanhas, frutas secas e coisas não industrializadas em Puerto Natales, na loja Itahue (R: Esmeralda, nº 455), que descobrimos nas pesquisas que fizemos para o planejamento.
Em Puerto Natales compramos tudo o que faltava no supermercado (que não fornece sacolas plásticas); fizemos um excelente lanche na Creperia Café e Té, preparamos a mochila; compramos a passagem para o parque; e jantamos super bem no restaurante “El bote”, de frutos do mar, nada como um salmão chileno com vinho na véspera da aventura, não é mesmo?
Uma dica interessante é ver se o hotel/pousada de Puerto Natales aceita guardar uma mala para deixar algumas coisas, como a roupa para o retorno, lembrancinhas e vinhos chilenos maravilhosos comprados no mercado 😉!
Primeiro dia – Trekking Torres del Paine
Pegamos o primeiro ônibus para o Parque Nacional e chegamos à portaria Laguna Amarga às 09:00, da Laguna Amarga ao Centro de Acolhida próximo ao Camping Central são 7 Km, alguns escolhem já começar a trilha aí mesmo e outros preferem pegar uma van até o centro de acolhida.
Nós fomos de van, porque não sabíamos como seria a trilha a partir de então e preferimos não acrescentar mais 7km desnecessários.
No Centro de acolhida é preciso fazer um registro com seus dados. Aproveitamos também pra mandar os últimos recados para o Brasil, usando o WI-Fi local. Depois só teria WI-Fi no refúgio Grey, no 4º dia da travessia.
Às 10:30 começamos a caminhada até o acampamento Serón. Seriam 9 Km, mas em Torres Del Paine, como em outras montanhas, a quilometragem não tem muita importância, tanto que os mapas não trazem a quilometragem, e sim o tempo de caminhada. Nesse trecho a previsão era de 4 horas de caminhada.
Esse primeiro dia é bem tranquilo, algumas pequenas subidas e pequenas descidas, sem muito vento, passando por trechos de florestas de lengas e outros trechos de campos de margaridas, uma excelente caminhada pra refletirmos sobre a alegria de poder fazer essa aventura.
Chegamos ao Serón as 15:00h, fizemos o “Check in” na Fantastico Sur e o registro com o guarda-parque, procedimento que deve ser feito em todos os acampamentos, montamos a barraca, tomamos banho quente e jantamos no refúgio. Essa foi uma opção que fizemos pra carregarmos menos peso: onde tinha opção de refeição, optamos pelo jantar e café da manhã no refúgio. Com isso ganhamos amigos muito especiais com quem jantamos e tomamos café vários dias.
Durante a noite ventou muito e em certo momento achamos que a barraca toda tinha se mexido, pensei “Que vento forte: mexeu tudo aqui!” Na manhã seguinte, soubemos que tinha sido um leve terremoto! Acampar no Chile é isso!
Segundo dia – Serón – Dickson
Do acampamento Serón até o acampamento Dickson são aproximadamente 19 Km, a trilha também é tranquila com alguns altos e baixo, mas dessa vez, com trechos de muito vento. Muito vento mesmo, algumas vezes, nos apoiamos nos bastões para não desequilibrar.
Mais ou menos no meio do caminho, passamos pela portaria Coirón, ponto de controle do Parque, nesse local, os guardas-parque verificam todas as reservas, pra saber se está tudo certo pra fazer o circuito “O”. Quem não tem todas as reservas direitinho, eles mandam voltar. Vimos alguns grupos realmente voltando e os guardas-parque conferiram todas as nossas reservas, por isso o planejamento é tão importante.
Almoçamos na “guarderia” Coirón e seguimos a trilha em direção ao Acampamento Dickson. Essa segunda parte foi mais plana que a primeira, passamos por alguns alagados com pequenas pontes e traves e só tivemos subidas e descidas no final. Uns quarenta minutos antes da chegada, subimos uma pequena elevação e avistamos o glaciar Dickson e o acampamento Dickson. Depois de longas horas de caminhada foi uma visão emocionante.
Mas ainda não tínhamos chegado, certo? A descida para o acampamento é muito íngreme! Muito mesmo, e quando descemos tinha um grupo de seis cavalos subindo. Fiquei bem assustada, mas passou rápido e logo chegamos naquela planície linda que quase parece um aterro de tão diferente do relevo local!
O acampamento Dickson é muito confortável, bastante espaço para as barracas, chuveiro quente (só uma portinha, com pouco espaço, mas isso é irrelevante nessa hora e eles estão ampliando as instalações), refeitório espaçoso e bem protegido do vento por uma mata entre o acampamento e o lago.
Aproveitamos o fim da tarde e fomos passear na beira do lago, formado pelo derretimento do Glaciar Dickson, imaginem um vento congelante, tinham blocos de gelo boiando no lago! Aí percebemos o quanto esse cinturão de mata fazia diferença no conforto térmico do acampamento, se não fosse ela, o frio da noite seria congelante.
Terceiro Dia: Dickson – Perros
A caminhada até o acampamento Perros seria mais curta que a do dia anterior, o que não significa que seria menos desafiadora, afinal a cada dia o corpo está mais cansado e a mochila, apesar de mais leve, parece mais pesada, além disso, subiríamos um desnível de 400 metros verticais, portanto foi um dia de muita subida.
Apesar do grande desnível, a caminhada não foi tão pesada, a vegetação já era bem diferente da do dia anterior, com mais árvores, típicas de regiões mais frias. Mais próximo do acampamento, a vegetação foi ficando mais escassa e passamos por alguns trechos de pedras.
Já no trecho final, subimos uma pequena colina de pedras e lá de cima vimos que estávamos na morena de um glaciar, a borda do glaciar “Los Perros”. Foi uma visão incrível, que energia boa e impactante saia daquela geleira tão bonita e tão assustadora ao mesmo tempo. Nos arrependemos de ter almoçado alguns minutos antes… Teria sido maravilhoso almoçar na “praia” do glaciar, contemplando o poder da Mãe-natureza.
De qualquer forma, descemos até a praia e paramos alguns minutos pra contemplar aquela maravilha da natureza e tomar uma aguinha gelada. Adivinha quem teve coragem de colocar a mão na água do glaciar pra encher a garrafa? O Júnior, é claro!
Logo chegamos ao acampamento Perros e organizamos nossas coisas. Aqui o banho era gelado, gelado mesmo, acho que a água vinha direto do glaciar que era ali pertinho – mesmo assim encaramos, afinal, somos brasileiros, né? O banho diário é quase sagrado.
Nesse dia deu tempo de conversar bastante com nossos amigos britânicos, americanos, chineses, chilenos e australianos. Acho que fizemos umas três refeições só pra ficar pelo refeitório curtindo a conversa! Uma torre de babel de inglês e espanhol com os mais variados sotaques!
O próximo dia seria o mais desafiador de toda a trilha, e a ansiedade estava muito forte, nem sei se realmente chegamos a dormir nessa noite, mesmo com todo o cansaço…
Quarto Dia: Los Perros – Grey
A maioria das pessoas que estava fazendo a trilha no mesmo período que nós não conseguiu reservar o acampamento Paso, que fica a 12 Km e 6 horas de caminhada do acampamento Los Perros, sendo assim, da mesma forma que nós, teriam que ir direto ao Acampamento Dickson, que fica a 10 Km e 5 longas horas do Acampamento Paso.
Eu não me preparei fisicamente como gostaria para essa aventura, então estava realmente preocupada com um dia de 11 horas de caminhada, sendo o primeiro trecho um desnível de 600 metros verticais para cima e o segundo um desnível de 1000 metros verticais para baixo.
Fiquei realmente muito preocupada, mas o desafio estava ali na minha frente, agora era só encarar!
Com um dia tão longo, alguns grupos saíram realmente muito cedo do acampamento, por volta das 4:30 da manhã, decidimos que iriamos acordar por volta das 5:00 e sair assim que estivéssemos prontos, sem tanta pressa. Conseguimos sair às 6:20, e ficamos com medo de não chegar no Paso John Gardner (ponto mais alto da trilha a 1200 mt de altitude) antes das 11:00, porque depois disso pode fechar devido ao clima.
Saímos de Los Perros e entramos numa florestinha agradável, a caminhada começou com uma subida leve, algumas partes com lama e algumas pequenas pontes pra ajudar, fomos andando bem, depois passamos por uma região mais descampada e onde estava mais frio e com um pouco de vento, nos agasalhamos melhor, porque agora o caminho era montanha acima e vimos que havia gelo em alguns pontos.
Achávamos que a subida seria a pior parte do dia. Paramos pouco e tentamos andar rápido nesse trecho, mas tiramos bastante fotos e fizemos alguns vídeos e mesmo assim, às 9:36 estávamos lá, chegamos ao alto do passo John Gardner. Ficamos muito felizes! Tínhamos caminhado no gelo, sentido alguns flocos de neve no rosto, visto lindas paisagens, não estávamos mortos e passamos bem antes do previsto! Perfeito!
Do outro lado, pudemos contemplar o glaciar Grey, enorme, imponente, incrível! E começamos a descer, um caminho de pedriscos com um pouco de vento, que acalmou quando entramos na floresta, achamos que agora tudo ia ficar melhor…
Mas, agora o caminho era “ladeira abaixo”, descemos entre as árvores, numa trilha parecida com a descida do dedo de Deus, em Teresópolis. Agradecemos por não estar chovendo e ansiávamos por chegar no acampamento Paso até as 12:00 e sair de lá até as 13:00, para não chegar muito tarde no Grey.
Um pouco antes do acampamento Paso vimos algumas pessoas, que estavam vindo junto conosco desde o Serón, sentados ao lado de uma cascata. Quando chegamos mais perto percebemos que tinha uma vista incrível do glaciar Grey! Um dos melhores mirantes de todos! Paramos alguns minutos pra tirar algumas fotos e aproveitar a paisagem!
Chegamos ao acampamento Paso perto das 12:00, fizemos nosso almoço e comemos. Saímos de lá as 13:10.
Eu estava um pouco preocupada com o que viria, porque sentia minhas pernas muito fracas pela descida até ali. Mal conseguimos aproveitar o caminho e admirar a floresta, tamanha a minha apreensão.
Logo saímos da floresta e entramos numa trilha entre a montanha e o glaciar, uma trilha bem exposta e com muito vento, realmente assustador. Eu só agradecia porque o vento vinha do glaciar pra montanha e não ao contrário. Em alguns lugares perdíamos o equilíbrio, devido a força do vento… depois soube que chamam esse lugar de algo como “colinas do diabo”… compreensível…
Achei que essa seria a pior parte… Eis que, de repente, avisto algumas mochilas no alto de uma ponte e visualizo que seria uma ponte pênsil! Entrei em pânico! Pânico mesmo, de verdade… o que fazer agora, tenho pavor de passar nessas pontes e percebi que no mapa apontava mais duas delas… não havia outra opção senão passar!
Ao chegar na ponte, vi as outras pessoas passando, mas foi difícil me acalmar. Até que o Júnior me disse, olha pro final da ponte e vai, não olha pra baixo, nem pros lados.
Então fui, decidi contar cada passo, pra ter no que pensar durante o trajeto. Acho que foi uma excelente estratégia… foram os 116 passos mais difíceis da minha vida! Mas eu consegui! No final, me abracei na pedra e chorei de novo, não sei se de alegria, de raiva, de coragem. Só deixei a emoção fluir, porque sabia que haveriam outros desafios pela frente.
Ledo engano que o Paso era a parte mais difícil. Certamente foi a parte mais fácil do dia… 😊
Seguimos, a essa altura eu não conseguia curtir nada mesmo, estava preocupada em como seria a outra ponte, quando iria acabar o vento e só queria chegar! Nem lembrava mais que estava cansada.
Passei da alegria extrema ao passar o passo a um profundo estado de tristeza, raiva e impotência. O tempo todo o Junior me falava o quanto eu havia sido corajosa, mas eu só queria não precisar ser corajosa…
Chegamos na segunda ponte, eu simplesmente fui, sem choro, sem sofrimento, quase parei na metade pra olhar pro lado… chegando ao outro lado, estavam nossos amigos estudantes chilenos, eles ficaram felizes por mim e foram muito amáveis! Fiquei muito feliz pela empatia deles comigo.
Continuamos o caminho e agora não havia mais tanto vento, entramos na floresta de novo e o caminho parecia mais colorido e agradável, apesar do cansaço.
A trilha seguiu e logo encontramos uma terceira ponte, dessa vez eu até parei no meio e admirei a linda Cachoeira que caia no Rio abaixo da ponte.
Que superação! Mal pude acreditar que o pânico que passei foi superado. Uma sensação incrível de gratidão tomou conta de mim e o caminho ficou bem mais fácil. Depois da terceira ponte começamos a encontrar as pessoas que vem para fazer o circuito W ou para ficar apenas um dia, a caminhada agora era mais leve, uma descida mais suave, com menos obstáculos e as 17:15, chegamos no tão esperado refúgio Grey!
Queríamos muito chegar, tomar um banho quente, encontrar nossos amigos pro jantar e dormir numa cama quentinha.
Foi um dia bem pesado, com várias estações, calor frio, vento, alguma chuva, milhões de emoções e ao final chegamos num refúgio muito agradável, quentinho, confortável e com uma excelente comida!
Não vimos muito a parte do camping, mas pareceu um pouco desabrigado e com uma estrutura pequena pra muita gente.
Quinto Dia: Grey – Paine Grande
Pelo mapa, esse dia seria bem curto e algumas pessoas nos disseram que seria uma caminhada bem tranquila. Então, decidimos ir ao mirante do glaciar Grey, admirar sua imensidão novamente, ainda pela manhã e só depois caminhar até o Refúgio Paine Grande.
O mirante é realmente lindo e de lá foi possível ver como a geleira está sendo reduzida com o passar do tempo.
Estava ventando muito, mesmo assim pudemos tirar algumas fotos com nossos amigos.
Voltamos ao refúgio e às 11:00 começamos a caminhada em direção ao Refúgio Paine Grande.
Estávamos andando bem devagar. As pernas estavam muito cansadas e a mochila parecia ainda mais pesada.
A trilha era um pouco mais difícil do que imaginávamos, com muito vento. Por sorte não havia muita exposição como no dia anterior e o vento estava nos empurrando para o lado certo.
A paisagem era muito bonita! Andamos pelo meio da floresta, por algumas partes que sofreram grandes perdas no incêndio de 2010 e por alguns campos, lagos, rios, cachoeiras. Tudo muito bonito. De repente entramos em um vale e lá no fim desse vale estava o refúgio Paine Grande. Foi bem mais rápido do que imaginávamos chegamos às 15:30, 30 minutos antes do que havíamos previsto.
Pudemos descansar um pouco, compramos um pacote de internet pra falar com a família e tomamos um banho quente.
Achamos o refúgio muito pior que o Grey, com mais gente, menos banheiros, a comida também estava pior e o banheiro estava um pouco sujo.
Mas ainda assim era uma boa cama pra dormir, o que realmente ajudou muito, pois o pessoal que ficou no camping disse que o vento foi muito forte durante a noite.
Ficamos num quarto com seis pessoas, com uma bela vista pro lago. E tivemos uma noite restauradora para continuar nosso trajeto no dia seguinte.
Sexto Dia: Paine Grande – Italiano e Mirador Francés
A caminhada do Paine Grande ao Italiano foi o trajeto mais curto da jornada, mas depois de chegar ao acampamento iríamos subir até o mirador britânico, no vale do francês.
Quando saímos do refúgio vimos que estava bem frio e o tempo estava bem fechado. O caminho foi bem suave, algumas subidas e descidas, algumas passarelas e pontos alagados, mas tudo bem mais tranquilo que os dias anteriores. A diferença é que tinha muita gente na trilha.
Depois de um trecho subindo na floresta, passamos uma ponte parecida com as do dia do Grey, mas menor e muito mais velha e do lado de lá estava o acampamento Italiano.
Chegamos ao acampamento italiano às 11:00, e decidimos comer antes de subir até os mirantes.
Começamos a subir as 12:30, fomos sem mochilas, só com um pouco de água e algum lanchinho e às 13:20 estávamos no mirante francês.
De lá pudemos ver bastante do glaciar francês e do vale francês. A vista estava incrível! Olhando em direção ao mirador britânico, pudemos ver que o tempo não estava muito bom, mas decidimos ir um pouco mais.
Encontramos um casal de holandeses que nos disse que talvez não valesse a pena. Depois encontramos nossos amigos ingleses e alemães e eles nos disseram pra ir adiante, porque mesmo com chuva a trilha valia a pena.
Andamos mais uma meia hora e percebemos que tínhamos perdido a carteira, com todo o nosso dinheiro, cartões e documentos. No susto, achamos melhor voltar. Não tínhamos mais ânimo pra continuar em frente, a preocupação era maior que a vontade de avançar.
Descemos o mais rápido que pudemos, olhando pra todos os lados, pra ver se havia caído em algum lugar. Quando chegamos no mirador francês, paramos mais alguns minutos procurando a carteira. De repente alguém chama de dentro de uma moita: “Luís, Luís”… olhamos pra lá e um homem perguntou: “você perdeu sua carteira?” “Deixei com o guarda parque no acampamento italiano.”
Foi a melhor notícia que poderíamos ter! Agradecemos muito e fomos ladeira abaixo ver se estava tudo certinho.
O guarda parque havia guardado tudo e pudemos ficar tranquilos! Mas não fomos ao mirador britânico… Decidimos fazer uma comida quente, e jantar, mesmo sendo cedo. Logo nossa amiga Ana chegou e ficamos um bom tempo pela “cozinha”, cozinhando, comendo e conversando.
O italiano é um acampamento bem básico. Tem dois banheiros ecológicos, espaço para cozinhar, espaço pra algumas barracas e só! Mas é um lugar bem abrigado do vento. Ouvimos o vento a noite toda, mas ele não chegava na barraca.
Depois de jantar, melhoramos a proteção da barraca com alguns troncos pra segurar o vento, pois tínhamos medo de esfriar muito durante a noite.
Deu tudo certo, dormimos super bem, apesar de estar muito frio. O saco de dormir, o liner e a proteção que fizemos deixaram a barraca quentinha.
Sétimo Dia – Italiano – Central
Sétimo dia de caminhada, novamente imaginávamos que seria mais tranquilo, apesar de longo, afinal já estávamos terminando, né? Depois dessa pernada só faltariam as torres.
Ledo engano. Apesar de não ter subidas muito altas, o percurso era cheio de subidas e descidas. Caminhamos mais rápido esse dia que nos outros, porque a mochila estava mais leve e já estávamos acostumados também. Mas não foi tão tranquilo assim.
Passamos no acampamento francês, rapidamente e tocamos para o Los Cuernos. Já era hora de comer algo mais consistente, então decidimos fazer uma parada maior e comprar um sanduíche e uma coca-cola pro almoço! Almoçamos olhando o lago e a montanha pela janela do restaurante. E conversamos com um casal de italianos super simpáticos que estavam fazendo o mesmo percurso que nós e tiravam tantas fotos quanto a gente! 😊
Depois do Los Cuernos todos diziam que a trilha ficava mais tranquila. É verdade, mas antes de ficar mais tranquila vieram algumas subidas e descidas mais íngremes, nada com muita exposição, mas suficiente pra cansar quem já estava no sétimo dia de caminhada.
De repente chegamos a uma placa que dizia que faltavam 5 km, no local onde se separavam as trilhas pra o Chileno e o Central. A partir daí, realmente foi bem tranquilo, mas exposto ao sol. Logo – quase 1 hora depois – passamos por uma lagoa da qual pudemos ver o Hotel las Torres e assim tínhamos um “farol”, levamos mais uma hora pra chegar até lá e a sensação de dever cumprido foi incrível.
O refúgio central foi o melhor de todos! Atendentes super simpáticos, camas confortáveis, chuveiro muito bom e bem quentinho, tudo ótimo! Se fizéssemos um percurso menor em Torres del Paine usaria ou o Central ou o Grey como pontos de apoio.
Estávamos na recepção carregando o celular e de repente veio o garçom oferecendo cerveja grátis. Era inauguração do bar! Tomamos três copinhos de cerveja por conta da casa! Em nem bebo, mas nesse dia, não deu pra resistir!!🎉
Ficamos um tempo do lado de fora do refúgio, curtindo o solzinho que batia na grama, fazendo nosso alongamento e conversando com mais alguns estrangeiros.
Nesse dia recebemos muitos parabéns por termos concluído o Circuito “O”! Eu não tinha me dado conta do nosso “feito”, mas a alegria e respeito que todos demonstraram ao nos cumprimentar foi incrível!
O jantar no refúgio também foi muito bom. Muito organizado e com uma comida excelente. Conhecemos um casal de brasileiros que estava começando o W e também ficou muito feliz com a nossa realização.
Fomos dormir por volta das 10:00 porque no outro dia acordaríamos cedo pra ir até as torres é realmente completar o circuito.
Oitavo Dia – Las Torres del Paine
Deixamos pra fazer a subida à base das torres no nosso último dia. Queríamos fechar o circuito com chave de ouro!
Pedimos pra trocar o café da manhã por um “lunch box” e a recepcionista nos ofereceu para tomar o café antecipado, que ficaria servido até as 6:00. Acordamos as 5:00 e as 5:30 estávamos tomando café. Conhecemos um casal de americanos que iria começar o Circuito “O” e já passamos algumas impressões pra eles, que estavam muito animados!
Pra nossa surpresa, além do café, com pão, manteiga, geleias, ovo cozido, presunto, queijo e cereais, tínhamos um lunch box pra cada um. Tudo o que precisávamos pra fazer uma boa trilha de 8 horas.
Eu acordei bem indisposta, mas não iria desistir no último dia, nem deixar nada entalado.
Começamos a andar as 6:20 e fomos bem devagar no começo, a primeira parte da subida é bem puxada e chegar ao Acampamento Chileno foi muito difícil. Ainda estava amanhecendo, tinha muitas nuvens, um pouco de chuva e as 8:00 estávamos no acampamento Chileno. Descansamos um pouco, lanchamos e saímos para o próximo ponto, acampamento Torres. Essa parte foi muito boa, uma trilha gostosa, no meio das árvores, mesmo com a chuva, estava muito agradável e em 1 hora estávamos no acampamento Torres. Paramos alguns minutos pra tomar fôlego, porque sabíamos que a última parte não era nada fácil.
Uma trilha morro acima no meio da mata, com muitos degraus de raízes, algumas passagens por riachinhos, chuvinha fina, mais perto do final, uma subidona perto das rochas e nos últimos 10 minutos uma caminhada em zigue-zague entre as rochas do glaciar.
No fim, lá estavam elas: Las Torres del Paine! Envoltas em algumas nuvens, é verdade, mas isso não diminuiu nossa alegria nem nossa emoção em chegar ali, depois de tudo o que passamos.
Ficamos alguns minutos contemplando as torres, agradecendo pelo seu poder, pela sua imponência, pela nossa saúde e disposição em chegarmos até ali e pela chuva ter ido embora e o sol estar começando a aparecer.
Sem a chuva, começou o vento e nossas roupas estavam muito molhadas. Durante a trilha descobri que meu anoraque estava perdendo sua proteção contra a água e tivemos muita sorte de não ter chovido até então. Mas nesse dia eu estava completamente molhada e ficar exposta ao vento, esperando as torres abrirem não seria uma boa opção, infelizmente.
Decidimos descer, mesmo sabendo que talvez uma meia hora mais tarde seria possível ver as três torres. Quando começamos a descer, começamos a ver muita gente subindo, mas muita gente subindo, mesmo…
Podemos dizer que demoramos mais tempo esperando pessoas subirem durante a trilha do que realmente descendo… Foi muito bom saber que conseguimos tirar fotos sozinhos lá em cima! 😊
Paramos no acampamento Torres pra usar o banheiro e foi uma agradável surpresa ver a casinha do guarda parque no meio da mata. Parecia coisa de filme. O acampamento não é mais utilizado, mas continua ali para apoio e conta com um heliponto utilizado em caso de emergência.
Comemos um dos lunch box aí, olhando a paisagem do vale e comemorando nossa vitória. Agora sim o sentimento de dever cumprido tomava conta de nós!
A descida até o Chileno foi muito boa e rápida, mesmo com muita gente vindo. No Chileno aproveitamos pra contemplar um pouco mais a paisagem e comer o outro sanduba e tomar uma coca, afinal precisávamos repor os eletrólitos! 😉
Saindo do Chileno tivemos a grata surpresa de encontrar nossa amiga Ana que iria acampar ali nessa noite pra subir as torres no dia seguinte.
Chegamos antes das 16:00 de volta ao nosso refúgio e ainda paramos pra tomar um picolé, porque a essa hora fazia muito calor e o sol estava muito forte.
Como eu disse o atendimento no refúgio central foi excelente, fomos lá buscar nossa mochila e pedimos pra tomar um banho, no que fomos prontamente atendidos. Como foi bom poder ter mais esse momento de relaxamento!
Voltamos pra Puerto Natales de carona com nossos amigos chilenos Ludwig e Angie, foi uma viagem super agradável, conversamos bastante, eles nos contaram muito sobre o Chile e por fim se hospedaram no mesmo Hostel que nós.
Jantamos no “Baguales”, onde comemos um excelente hambúrguer e tomamos algumas cervejas locais.
Nosso ônibus pra El Calafate era no dia seguinte às 7:30, mesmo assim ficamos na rua até as 00:00 e pudemos ver algumas estrelas inclusive o Cruzeiro do Sul de cabeça pra baixo! 😊 Essa foi a primeira vez que vimos a noite no Chile, porque anoitece realmente muito tarde nessa época.
Volta pra casa
Voltamos por El Calafate e como compramos as passagens primeiro e reservamos os acampamentos depois, deixamos um dia de sobra, e aproveitamos pra conhecer o Glaciar Perito Moreno. Na volta, como não gostamos muito da Cootra, decidimos voltar com a Bus Sur o que foi uma excelente escolha.
Começou pelas malas que foram devidamente identificadas, depois a atendente passou conferindo novamente os bilhetes e relacionando as malas com os passageiros, na aduana fomos atendidos super rápido, tivemos um lanchinho fornecido pela empresa e paramos pra lanchar e ir ao banheiro.
Gostei muito do ônibus e da empresa e recomendo que prefiram a bus Sur, mesmo sendo um pouco mais cara que a Cootra.
Chegamos em El Calafate antes das 13:00, fomos ao nosso hotel, deixamos as malas e fomos almoçar. Comemos uma boa salada e as melhores empanadas da viagem, no restaurante Napoleon.
Depois fomos ao Glaciarium, um museu que fala da formação dos glaciares e de como eles são importantes tanto no equilíbrio ambiental quanto para se estudar a ação do aquecimento global. O museu fala ainda dos primeiros exploradores dessa região e dos “glaciologistas”, pessoas que estudam essas incríveis massas de gelo. Não é uma visita imperdível, mas é bem interessante e valeu a pena, principalmente porque no outro dia iríamos visitar o Perito Moreno e ter uma aula sobre ele no dia anterior foi muito interessante.
Conseguimos combinar de jantar com nosso amigos ingleses, Hannah e Thomas e tivemos uma alegre surpresa com o delicioso restaurante que eles escolheram: Mi Rancho, comi uma truta excelente e o Junior aprovou o cordeiro patagônico.
Depois ainda comemos um delicioso Helado de Dulce de leche e fomos ao mercado comprar os lanches para o dia seguinte em que iriamos fazer o Mini Trekking no Glaciar Perito Moreno.
Compramos o pacote no dia anterior na Hielo e Aventura. A ideia é visitar a frente do glaciar Perito Moreno pelas passarelas e depois fazer um “mini-trekking”, caminhando 1:30 pelo gelo.
O ônibus passou logo depois das 10:00 e perto das 11:00 já estávamos na entrada do parque dos glaciares. Durante o trajeto o motorista foi passando alguns áudios falando da flora e fauna da Patagonia e do que estaria nos esperando no Parque Nacional dos Glaciares, o maior da Argentina.
Tivemos 2:00 horas para andar pelas passarelas, admirar a frente do glaciar, tirar muitas fotos e almoçar nossos sanduíches de pão de miga comprados ontem no mercado.
A grandeza dessa parede branca e azul é impressionante! Até chegar aqui eu não sabia porque tantas pessoas vinham ver o glaciar, ao ficar frente a frente com ele entendi a paixão e admiração que desperta!
Foi muito bom ficar esse tempo admirando-o. Vimos alguns desprendimentos não tão grandes, mas realmente incríveis. O barulho, a força com que caem na água, é tudo muito impressionante.
Depois embarcamos em um barco para ir ao outro lado do lago. A ida de barco já foi um bom passeio. Vimos a face norte do glaciar mais de perto e pudemos observar seu incrível azul. Desembarcamos, recebamos orientação dos guias e logo nos dirigimos à lateral da geleira pra receber nossos grampões e iniciar a caminhada.
Eu não poderia imaginar que seria tão legal. Achei que seria difícil, que os grampões seriam muito pesados, e que o cansaço poderia nos impedir de aproveitar o passeio.
Mas não foi tão difícil assim, a guia nos explicou como usar os grampões e lá fomos nós por uma “trilha” bem marcada no gelo. Além da guia que ia a frente havia mais um guia que ia por último e saia da trilha pra ajudar a quem precisasse. Uma das nossas companheiras de grupo sentia muito medo, então ela foi na frente junto com a guia.
Que experiência incrível! Vimos como é difícil andar sobre o gelo, e também como é possível fazer isso. Tomamos água da geleira, passamos por cima de gretas, fendas, buracos e verdadeiros riachos de degelos. Paramos várias vezes pra tirar fotos e para receber algumas explicações a respeito do glaciar. No final do passeio, paramos para um drink com whisky e gelo do glaciar!
Valeu cada centavo e cada minuto investidos no passeio. Uma excelente despedida da nossa viagem. No outro dia voltamos pra casa com o coração cheio de gratidão e de novas amizades e a cabeça cheia de boas lembranças!
Quem tiver qualquer dúvida e quiser falar direto com a Cris, escreva para crizmh@gmail.com Abaixo, o vídeo que o Júnior, marido da Cris, preparou resumindo a viagem.